quinta-feira, 26 de junho de 2008

João Cândido - o "Almirante negro" do mar


Bravo herói brasileiro, é assim que podemos descrever o líder da Revolta da Chibata, João Cândido. Ele tinha por objetivo pleitear a abolição dos castigos corporais na Marinha de Guerra do Brasil, que eram feitos ainda de forma monárquicos para com os marujos, fazendo suscitar um movimento em prol dessa abolição.

O “Almirante Negro” como era conhecido, foi o principal líder da Revolta da Chibata. Assim como os demais marujos, ele não era de acordo com as condições subumana que os marinheiros negros eram submetidos.

Militar brasileiro, João Cândido Felisberto, nasceu na Província do Rio Grande do Sul em 24 de janeiro de 1880 e, mesmo sendo filho de escravos de uma fazenda, conseguiu ingressar, aos 13 anos, na Escola de Aprendizes-Marinheiros do Rio Grande. Ele era mais um marujo negro na marinha de guerra brasileira que, a frente da Revolta da Chibata, desejava o fim do uso do chicote.

Mesmo com a abolição da escravidão, por meio da Lei Áurea em 1888, a marinha de guerra do Brasil, insistia em manter comportamentos escravistas e desumanos, mesmo que a época fosse outra, início do século XX . E como no tempo dos pelourinhos, o chicote era o principal instrumento de punição e de “disciplina” aplicado aos novos e velhos marujos.

A oficialidade branca não tinha nenhum resigno em querer o fim desse ato cruel, o açoitamento dos marujos, na maioria negros, deixava implícito a idéia de que o homem branco era superior ao negro. Uma idéia totalmente racista de demonstrar a força da marinha brasileira.

Se um marinheiro cometesse uma falta, como por exemplo, não lavar direito o convés, o oficial poderia castigá-lo com chibatadas. Sem falar nas péssimas condições de vida a qual os marinheiros estavam sujeitos. Eles dormiam em meio a baratas, o prato de comida era intragável, recebiam baixos salários e eram obrigados a prestar serviço militar por um longo período.

Decidido a modernizar a marinha brasileira, o governo de Marechal Hermes da Fonseca, havia comprado três navios ingleses, além de adquirir novos canhões, três cruzadores, três submarinos, seis torpedos e seis caça-torpedos. Quanto à abolição das chibatas, não fazia parte do plano de modernização da marinha, que passava a ser a terceira maior esquadra militar do mundo. O que gerou revolta por parte dos marinheiros, tendo eles se rebelado contra os comandantes.

Chefiados por Francisco Dias, João Cândido e outros tripulantes do Minas Gerais, navio da capitânia da esquadra, os marinheiros organizavam-se contra a situação humilhante de que eram vítimas, semelhante as condições dos navios negreiros. O mesmo ocorreu no navio São Paulo, chefiado pelo cabo Gregório e no Deodoro pelo cabo André Velino.

O movimento que vinha sendo articulado pelos marinheiros, ganhou força a partir do espancamento de mais um companheiro, Marcelino, que recebeu 250 chibatadas aos olhos de toda tripulação do navio Minas Gerais. A crueldade foi tanto que mesmo desmaiado, Marcelino continuou a ser açoitado, aumentando ainda mais a revolta dos marujos.

Sob a liderança de João Cândido, no dia 22 de novembro de 1910, os marinheiros se apoderarem dos principais navios da Marinha de Guerra brasileira eclodindo assim a Revolta da Chibata.

Com as rédeas do navio Minas Gerias e com a ameaça de bombardear os bairros elegantes do Rio de Janeiro, na época capital da República, os marinheiros exigiam o fim dos maus tratos, queriam que o governo proibisse o uso da chibata pela marinha, como fizeste outrora, Deodoro da Fonseca em 16 de novembro de1889 por meio de um decreto, mas que vigorou somente durante um ano.

Enquanto bandeiras vermelhas eram hasteadas nos navios amotinados na Baía da Guanabara, os oficiais do movimento enviavam mensagens ao presidente da República e ao ministro da Marinha, clamando por respeito e por um basta nas humilhantes punições. Os oficiais da armada, em posse dos novos navios e de canhões, estavam decididos a lutar por seus direitos.

A negociação não era simples, pois de um lado estava a Marinha, que queria a punição dos rebelados e do outro o governo e os políticos, que sabiam não ter forças para acatar a exigência da marinha, em punir os rebelados a qualquer preço, mesmo que alguns oficiais da armada tivessem que morrer. O governo estava ciente de que os marinheiros estavam militarmente mais preparados do que a Marinha de Guerra, em virtude de estarem com o comando de quase toda armada e com a pose dos canhões das belonaves apontando para a cidade do Rio de Janeiro.

Após cinco dias de revolta, as bandeiras vermelhas desceram do mastro, os marinheiros estavam confiantes da vitória. Depois de muitas reuniões políticas, com a participação de Rui Barbosa, era aprovado um projeto de absolvição dos amotinados e o uso da chibata como norma de punição disciplinar na Marinha de Guerra do Brasil, tornava-se proibida.

As forças militares inconformados com a audácia dos marinheiros em confrontar os “brios da Marinha de Guerra”, fecharam o cerco e juntamente com civis vingaram a ousada conquista destes bravos marujos.

Para desarmar os marinheiros de qualquer atitude sublevar, o governo assinou um decreto que previa a demissão de qualquer marinheiro. A marinha por sua vez fez suscitar várias conspirações contra a guarnição da ilha das Cobras, tudo para ter um pretexto que desencadeasse numa repressão sobre os marinheiros negros. Como conseqüência ocorre uma verdadeira chacina.

Os marujos que haviam sido presos, foram exterminados durante viagem para o Amazonas e jogados ao mar. João Cândido e seus companheiros foram presos numa masmorra da ilha das Cobras, e aos poucos foram morrendo em conseqüência as péssimas condições que viviam enclausurados ou fuzilados sem julgamento.
João Cândido após enlouquecer foi internado, conseguindo alguns anos depois se restabelecer fisicamente e psicologicamente. Sozinho, abatido, na miséria e tuberculoso, vem a falecer na cidade do Rio de Janeiro, sem patente, sem aposentadoria e até “sem nome”.

A coragem deste “Almirante Negro” em defender sua raça, seu povo, em lutar por um ideal de liberdade deve ser seguido. É de homens corajosos e determinados a lutar pelo bem comum, como João Cândido, que nosso país necessita para que os direitos humanos, promulgados em 1948 pela Organização das Nações Unidas (ONU), sejam respeitados.

Não podemos esquecer de heróis que se doaram há causas nobres, que reconheceram na desigualdade da “força” um instrumento poderoso tanto para o mal como para o bem.
Afinal, mesmo que conste na constituição dos direitos humanos, 4º e 5º artigo, que ninguém deverá ser mantido em escravatura ou em servidão; sendo a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, proibidas, assim como a submissão à tortura ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, esse tipo de tratamento continua a existir, mesmo que seja em casos isolados e isso não pode continuar.

Um comentário:

Anônimo disse...

bom comeco